O Jardim do Etewaldo e filhos escultores Nascido
em Açu (RN), no ano de 1939, com dois anos de idade Etewaldo
mudou-se para Natal.
Quando
eu era garoto fazia umas pecinhas com esse barro de estrada, torrado,
ou então pegava um pedaço de madeira.
A idéia de fazer vinha da minha própria cabeça. Em Natal eu era letrista. Depois de casado, eu mudei para Ceará Mirim, isso em 1970. Cheguei aqui como fotografo. Era o que eu fazia para sustentar a familia. E de vez em quando eu fazia uma pecinha de madeira. Sempre fiz essas mesmas figuras. Toda vida gostei de velho, dessas pessoas sofridas. As esculturas de Etewaldo Cruz Santiago têm aproximadamente 20cm de altura, exceto quando se trata de uma encomenda especial. Tinturadas em preto com um preparo de sua fabricação, representam agricultures, pescadores, rendeiras, cangaceiros, violeiros, lenhadores, lavadeiras.. Gosto mais de fazer agricultor e pescador. São os que têm mais saída. Quase tudo velho. Aqui, sempre ando aí por fora pra pegar modelos de velho. Pelo carnaval eu gosto muito de conversar com eles. Se eu descobrir um canto que tem uns velhos do meu tipo, começo logo a conversar com eles. Pago até cachaça pra ficar olhando a roupa, o jeito, o chapéu... Etewaldo repete, no barro, seu ofício de fotógrafo. Retrata, em suas peças figuras que mais o tocam no seu cotidiano: a mãe esquálida sentada no chão, amamentando o filho; o velho encurvado, com enxada no ombro; os pescadores também alquebrados, na luta pela sobrevivência... Todos muito expressivos. Quando eu fiz minhas primeiras peças, eu vendia na loja dos retratos. Essas mesmas peças eu vendi, em 1971, na feira de São Paulo, por muito mais. Quando voltei, aumentei o preço na praça. Depois botei umas peças numa exposição de uma galeria de Natal. Então minhas peças foram valorizando. Um dos meus maiores incentivadores foi o Almirante Milton Braga. Ele valorizou muito minhas peças. Patrocinou uma exposição minha em Brasilia. Agora posso dizer que vivo mesmo desse meu trabalho. Etewaldo esculpiu uma peça de 1,70m de altura, sob encomenda do governo, para o bosque dos namorados, em Natal. É um casal abraçado, se beijando. Me deu muito trabalho: levantei de barro, depois cobri de cimento e depois descasquei o cimento. Passei um mês trabalhando nervoso, com mêdo que não desse certo. Ela é toda oca, como as peças pequenas, sendo que na pequena eu já tinha o jeito. Na pequena, eu enrolo um cilindro de barro, enfio um graveto pra furar e enrolo de novo. Fica então um cano de barro: esse é o corpo do boneco. Isso foi um jeito que descobri sozinho, depois de muito fracasso. O pessoal de Ceará-Mirim nõ compreende de arte. Por sinal, quase que me conhecem só como fotógrafo. Etewaldo mora numa casa em Ceará-Mirim com um jardim muito bonito. Tem uma bela árvore:EMBÚ-CAJÁ, onde esta pendurada uma gaiola com um passarinho, o CANCÃO. O passarinho imita o canto de todos pássaros. Para iluminar o jardim Etewaldo colocou uma lâmpada no galho do Embú-Cajá. Eliete a esposa do Etewaldo é que faz essas garrafas lindas com carderinho (o nome dado no local ao cactus). Ela cuida das outras árvores, goiabeiras, as Romãs, as Mangueiras. Dos frutos do Embú-Cajá é feito um melado por Eliete, é um doce muito gostoso,diz Etewaldo. Etewaldo acabou de entregar uma escultura para praia dos artistas em Natal (RN), em homenagem a todos pescadores que sobrevivem dos frutos do mar. Textos
do livro O REINADO DA LUA - Escultores Populares do Nordeste Proibida a reprodução sem autorização prévia. |
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