Paris - Outubro 1992

Posse da Sra. Zélia Gattai Amado
Academia Brasileira de Letras
21/5/2002

 

 

 

 

 

 

 

  

 

 

 

 



Convite de Zélia Gattai p/ Maria Luiza e Guilherme Giorgi

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Ao chegar á Bahia em 1963, para fixar residência, já se encontrava aqui a arquiteta italiana Lina Bo Bardi, casada com Pietro Bardi. Lina viera a convite do governo do Estado, convite feito a conselho de intelectuais baianos: Mário Cravo, José Valadares, Sante Scaldaferri, entre outros. Informados da capacidade de realização da notável arquiteta, conseguiram que ela viesse para ocupar-se do Museu de Arte Moderna da Bahia, então sediado em local inadequado, no teatro Castro Alves. Lina chegou e não perdeu tempo: arregaçou as mangas e atirou-se ao trabalho. O Solar do Unhão encontrava-se abandonado, meio em ruinas e ela com sua experiência decidiu nêle instalar o Museu. Sob sua direção foi feita a restauração do velho casarão: enriqueceu-o com uma invulgar escada de madeira, pura beleza, ligando os dois pavimentos centrais - só por esta escada teria valido a pena Lina Bo Bardi ter vindo á Bahia. Conhecemos e tratamos com Lina em casa de amigos e pudemos constatar a fôrça de sua personalidade. Trajava-se de maneira simples, sempre o mesmo figurino desenhado por ela - paleto e saia justa, comprida pouco acima do tornozelo, em geral de côr preta. Quem costurava sua roupa era Norma Sampaio. Norma não era costureira de profissão, mas Lina não queria outra, achava que sómente Norma poderia entender e confeccionar suas roupas Boa de cozinha, em três tempos Lina preparava um bom espagueti. E as pizzas? Não lembro de ter comido melhores. As regras mandam que se faça a massa da pizza com farinha de trigo. Pois bem desprezando tais regras, Lina as fazia utilizando a mistura destinada ao pão de minuto especial. E o resultado que delicia! Em 1964, perseguida pela ditadura militar, Lina Bo Bardi teve que deixar a Bahia. Passados tantos anos descubro em São Paulo uma casa residencial, projetada por ela em 1958 para uma amiga, Váleria P Cirell.

 

Casa simples e ousada, romântica e poética, feita de matériais rústicos, paredes e chão com pedras e cacos de cerâmica (nossa casa do Rio Vermelho, na Bahia, herdou um dedinho de Lina Bo Bardi:cacos de azulejo atapetam escadas e áreas descobertas), incorporadas à paisagem do jardim. Ao comprarem a casa em 1973 Maria Luiza d'Orey Lacerda Soares e Guilherme Giorgi Lacerda Soares aceitaram o desafio de restaurar a casa, encontrada em péssimo estado, fechada havia anos, após a morte de Valéria Cirell. Deviam reformá-la sem disvirtuar o projeto original. Paisagista competente, entendida e apaixonada por plantas e jardinagem, com o apoio do marido ele também empenhado na restauração Guilherme inventou até uma cascata caindo do telhado sobre a piscina- da casa e do jardim. O casal conseguiu seu intento. A casa de Lina Bo Bardi lá está como foi concebida ornamentada de plantas raras e de flôres. Se estivesse viva, estou certa, Lina teria aberto os braços aos atuais proprietários da casa, que souberam tão bem entendê-la e amá-la.


Zélia Gattai

Colaboração do Professor Mauricio Wieler.

Fotos  Maria Luiza d´Orey Lacerda Soares e colaboração em 2011  de Ricardo Rodrigues

Proibida a reprodução sem autorização prévia.

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